quinta-feira, setembro 07, 2006

(fotos: Lumiar, Festival dos Mellos e DNA Brasil)
















(Mais reflexões sobre o CONARH 2006. E chega!)

Você Está Louco!

“Você Está Louco!” é o título do novo livro de Ricardo Semler, dono do Grupo SEMCO. Veterano do mercado literário, no final dos anos oitenta foi best-seller e galgou o posto de guru internacional com “Virando a Própria Mesa”, que vendeu 1,1 milhão de exemplares em todo o mundo.

A SEMCO tem um presidente-executivo, mas é Semler que, por email, toma as principais decisões e orienta estratégias e negociações.

Morando no exterior, fazendo viagens exóticas ou dando aulas no MIT, Semler desconstruiu a rotina tradicional de sua empresa, criando horários flexíveis, escritórios compartilhados, autofixação de salário e o programa “aposente-se um pouco”, onde o funcionário pode utilizar um dia da semana para fazer o que quiser e pagar com trabalho quando estiver aposentado.

Semler desconstruiu seu próprio cargo. Ele é um típico não-presidente que merece ser lembrado na reconstrução do CONARH.

O CONARH, com seu Fórum de Presidentes, desconstruiu o Congresso de Recursos Humanos.

Um Congresso de uma classe profissional deve ser um grande marco, um momento muito esperado, pelo conteúdo inovador e pela avassaladora onda de mudanças que provoca.

Apesar do tema “Transformar para Competir”, nosso Congresso de RH vem carregado de mesmices e reproduz as novidades que todo mundo já conhece.

Uma pena.

O não-presidente da SEMCO poderia ser uma exceção, um convidado especial num Congresso que precisa ouvir menos os executivos e mais os “colaboradores”. Também seria importante ouvir os próprios funcionários do Grupo, pra saber se na prática a coisa funciona mesmo.

Portanto, organizadores do CONARH 2007, esqueçam os presidentes, mas chamem o Semler.

Interessante verificar que, dos poucos brasileiros a palestrar nos eventos da HSM, que até recentemente só abriam espaço para estrangeiros, Semler é presença das mais aplaudidas.

Por outro lado, um de seus projetos mais instigantes, a escola Lumiar, também foi destaque no Fórum Social Mundial, na abafada Porto Alegre de janeiro de 2005.

HSM e FSM, portanto, reconhecem o valor do empresário.

Mas vamos falar da Lumiar. Tem uma “estratégia” de RH escondida aí.

A Lumiar é uma escola, escola mesmo, para crianças de verdade, criada por Semler, com duas unidades em funcionamento, em São Paulo e Campos do Jordão.

No livro, ele explica uma das motivações para abrir a Lumiar: “Eu percebia como a escola do senso comum entregava à SEMCO adultos totalmente condicionados a serem submissos, a esperarem instruções, a se submeterem a uniformização. Depois de passar mais de duas décadas tendo de desprogramar no trabalho o que lhes foi transmitido desde o jardim-da-infância, resolvemos mudar o sistema no momento certo: o jardim-da-infância”.

Na Lumiar, os pilares da educação são Liberdade, Cidadania e Aprendizado Profundo. É uma experiência inovadora. Os alunos podem ser filhos de milionários paulistanos, que pagam R$ 1.200,00 por mês ou favelados, com mensalidade de R$ 3,00. As crianças não são obrigadas a assistir as aulas. Aliás, não há “aulas” convencionais. Mesmo assim, a escola conta com 107 mestres registrados, entre carpinteiros, professores da Poli/USP, biólogos e artistas de circo.

Bom, tudo isso está bem explicado nos sites www.lumiar.org.br ou www.fundacaosemco.org.br e, claro, no próprio livro.

Voltando ao velho, no sentido de ultrapassado, CONARH, colhi algumas opiniões de executivos de RH que foram e que não foram ao Congresso.

Uma jovem gerente de indústria farmacêutica não foi ao evento, pois se preparava para uma viagem de trabalho a Alemanha. Também não foi no ano passado, nem no anterior e não participa de grupos informais nem da ABRH, embora a empresa seja associada. Independentemente disso é uma profissional de sucesso, disputada pelo mercado. Ela não vai ao CONARH porque já conhece o pessoal das palestras e não está interessada em brindes ou nas “novidades” dos planos de saúde. Poderia até dar um pulinho, já que trabalha na Grande São Paulo. Acha que seria legal encontrar os colegas pelos corredores ou auditórios, mas sabe que eles também não estarão por lá.

Outro gerente, de indústria de celulose mineira, foi ao Congresso, como faz todos os anos. A empresa paga, já está no budget. Mas ele já não se entusiasma pelo evento. Diz que os mais novos, que vêm pela primeira vez, podem encontrar muita coisa boa. Mas ele prefere ficar pelos corredores, batendo um papo, revendo os amigos que também estão por lá todos os anos. Ele mesmo tem boas histórias pra contar, experiências interessantes que acontecem na sua empresa, envolvendo funcionários e a comunidade. Mas estes casos reais, vivenciados por associados da ABRH não interessam ao comitê organizador do CONARH.

A jovem gerente poderia ser convidada do Congresso em 2007, para contar ao público porque o velho CONARH não interessa, não causa impacto nem gera “ondas de transformação”. Os causos do gerente mineiro poderiam ter destaque, assim como os milhares de cases ocorridos no âmbito das seccionais. Um material extraordinário, desperdiçado todos os anos.
Mas enquanto o CONARH 2007 não vem, o observador atento pode acompanhar dois eventos bem mais modestos, mas seguramente mais transformadores, que acontecem ainda neste mês de setembro. Ambos no bairro dos Mellos, proximidades de Campos de Jordão. Ambos idealizados pelo Semler.

Um deles é o DNA Brasil 2006, fórum de debates que está repensando o país, reunindo personalidades distintas como João Pedro Stédile, do MST, o índio Daniel Munduruku, o empresário Horácio Lafer Piva, o padre Júlio Lancelotti e o senador Suplicy. Será a terceira edição do evento.

O pano de fundo desta feita serão os planos estratégicos já elaborados para o país pela sociedade civil e pelos governos FHC e Lula. Uma equipe, coordenada pelo prof. José Eli da Veiga, da FEA-USP, elaborou um mapa apontando os pontos em comum e as divergências entre eles. Durante o evento, os convidados vão analisar o material, com o desafio de apontar quais devem ser as prioridades do país nos próximos anos. Detalhes em www.dnabrasil.org.br

Na seqüência do DNA Brasil começa o Festival dos Mellos, no mesmo local. O festival leva para o bairro rural uma série de debates (conversas), oficinas, música, dança, circo, cinema, teatro de bonecos, feira de produtos orgânicos, entre outros. E não é só pra inglês ver. O festival conta com a participação intensa e prioritária da comunidade local. Cacá Diegues, Gustavo Franco, a Cia. Pia-Fraus e o maracatu Baque-Bolado estarão por lá.

A escola Lumiar, o DNA Brasil e o Festival dos Mellos são iniciativas da Fundação SEMCO.

O novo CONARH poderia ser um festival reunindo o melhor de todas as seccionais, um fórum de colaboradores e conversas produtivas que atraíssem a jovem gerente de RH e seus colegas.

Mas o festival que temos assistido até agora reúne mesmices e marketing. Ah, e o Fórum dos Presidentes, claro!

Pra mudar essa realidade, vamos esquecer os presidentes!

Melhor, vamos lembrar somente de dois deles: o Roberto Justus e o Ricardo Semler...

Pensando bem, o Justus só vai servir para demitir o comitê organizador do Congresso, depois pode cair fora. E o Semler nem é presidente e também não vai topar participar dessa chatice.

É. Esqueçam os presidentes!